quinta-feira, dezembro 28, 2006

Momentos de rua


Queria dormir contigo esta noite, sentir a tua barba a roçar na minha cara, ter o teu cheiro pelo corpo e saboreai-lo, olhar para os teus olhos e saber que embora fechados estavam a olhar para mim, a imaginar-me num lençol preto...saber que me desejas. Queria-te ao meu lado hoje, que me sentisses mulher, tua como sempre, tua como continuo até hoje.
Entra-me este cheiro nas narinas que vem com um sabor gelado, mas que me aquece por toda, este cheiro que eu adoro e que me faz lembrar a presença e o toque daquilo que mais desejo.
Saio para a rua nesta tarde morta de inverno em que todos tem caras pálidas de desespero. Sento-me num banco e observo as folhas a cair, lentamente...adoro-as quando caem assim e aterram suavemente no chão como se fossem um tapete persa para as pessoas que as pisam, elas caem como a esperança, a minha cai por terra em cada minuto que passa por nós e pela nossa historia.
Sinto-me fraca, no meu deste frio, inspiro todo o ar frio que posso porque este não tem cheiro e expiro, deito tudo cá para fora num sopro para ver se desapareces por magica. Mas os anjos não desaparecem, ficam sempre eternos e levam a nossa alma com eles, sinto falta de ambos, da alma e de ti...
Quando surgis-te na minha vida apanhaste-me desprevenida, envolvi-me na paixão desenfreada e sentida pelos dois. Mas não te acuso da dor que sinto agora, preciso apenas de ficar só...aqui...com a luz da rua acesa só para mim...quero ficar aqui no meu canto...porque a via segue lá fora...
Queria só que um dia voltasses, que abrisses essas lindas asas para mim, que o teu corpo fosse meu, que mesmo despida não sentisse frio...

sexta-feira, dezembro 01, 2006

O cheiro branco



Deito-me nos lençóis lavados de fresco, aquele cheiro agrada-me, remonta-me sempre á infância, são brancos e fazem com q o meu descanso pareça de um anjo. Cheguei hoje aqui a viajem foi longa mas o sitio vale todo o esforço.
Da janela de casa vejo a rua de pedra e a gente genuína que estranha aquela pessoa desconhecida. Não vim para ficar, vim para respirar a pureza que não encontro á muito na minha vida, sozinha com a mala e os livros. Vim apenas organizar todos os pensamentos bons, e esconder os maus na prateleira, este é o sitio ideal para isso.
Deixo-me estar mais um pouco deitada, a sentir o branco do ambiente e esticar as pernas cansadas. Aqui tudo cheira a novo velho.
Saio para dar um longo passeio, caminho por sítios que não sei o nome, mas para mim basta apenas observa-los. Encontro assim um riacho que me desperta os sentidos, dispo todas as roupas, meto-me dentro de agua, e sinto-me renovada, desfruto tudo aquilo que realmente é meu, a felicidade vem-me de dento e sorrio.
Saio da agua água fresca e sorridente uma boa meia hora depois. Quando viro a cabeça vejo-te a olhar para mim, com a tua cara de pasmo... agarras-me de saudades e eu cedo, encontraste-me ali, ainda não sei porque nem como, mas antes de saber a resposta, já estou no chão.
Beijo-te tanto como se todos os meus beijos fossem acabar, toco tudo o que tenho ali, perto, mas que sei que não é meu. Dispo-te e desejo-te mais a cada segundo. Consumo-me de duvida mas apago-as como a fósforos. Leio o teu desejo e quero-o para mim, sinto-te ali e entrego-me...deixo que me explores o corpo e que me toques na carne...tudo em nós arde, apenas arde e consome um pouco mais de nós por dentro.
Acaba e ficamos ali, até que tu adormeces-te, de cansaço dos quilómetros que percorres-te, e de todo o envolvimento nosso, deixo-te ali a dormir, prefiro que acordes sem mim e penses em mim como um sonho.
Desloco-me vagarosamente rápido do local, estou gelada por dentro. Quando cheguei, tomei uma banho e deitei-me na cama branca enrolada na toalha, os lençóis ainda cheiravam a fresco, mas eu estava podre no fundo.
Ali no branco chorei as ultimas lagrimas negras, senti a dor e adormeci com ela ao meu lado. A meio da noite levantei-me, olhei para a lua, disse-lhe olá, sentei-me no parapeito da janela e senti que te tinhas ido de vez...realmente tudo tinha acabado...resolvi o que faltava. No dia seguinte fui-me embora

quarta-feira, novembro 08, 2006


Parei de te escrever hoje, porque nunca me lês-te. Na luz ténue do meu quarto guardo-me de todo o sofrimento que me impões. Aqui sinto-me protegida, longe da tua carne que me aflige.
Cheiro as minhas mãos para ver se ainda têm o meu cheiro, pois há dias que nem me reconheço a mim mesma, e travo batalhas, batalhas para voltar para mim.
Fecho os olhos e penso em coisas felizes, como nos dias em que saia e dava grandes passeios, já não me lembro para onde foi aquele olhar, olhar de menina que não existe mais.
Estava contigo, completamente viva por ti. Preciso do teu abraço outra vez e que me sussurres ao ouvido as tuas verdades que eram palavras, amei-te para sempre nesses momentos…
Chove e observo cada gota de chuva que cai, gosto da sua transparência, queria que ela fosse minha e te trouxesse de novo. Deixo que o sol se ponha para mais um dia sozinha, e volto a cheirar as minhas mãos, o cheiro ainda não está lá, o meu cheiro…
Ai tenho outra vez vontade de escrever, ponho-me nua no papel, num papel que nunca lerás. Dispo-me para ti como antigamente, dispo-me até ao osso. Hoje vou pegar no meu desejo e torna-lo bonito.
Assim no meu quarto fui feliz, o meu olhar brilhou por segundos porque as palavras são mágicas, saborosas, tentadoras….
Aquelas palavras foram para ti, foi como se estivesses ali a ouvir o riscalhar do papel.
Adormeci contigo em mim, com todas as palavras sobre o meu corpo…adormeci despida de alma…

Manha Dourada


As estrelas caem e a manha dourada aparece com a luz que vem sorrindo para um novo dia, ilumina assim esta rua minha que é tão de todos. Ainda estou acordada, passei toda a noite em branco. Relembro os teus olhos e o olhar de paixão, nunca mais vi esse olhar, procuro-o em todos os homens, em todas as pessoas e não o encontro.
Olhar que me absorvia, que me levava para outra realidade, uma realidade mutua onde a nossa ligação era o respirar, era a liberdade, era o tudo.
Vivo agora sem a sensação de ser arrebatada só com a ligeira presença de ti, o teu cantar rouco e a voz forte que me segurava a mim própria.
Sente todo o meu desespero nesta manha em que não estamos juntos e respiro todo o verde pinho porque não tenho o teu azul. O nosso azul que brilhava só para mim, que bebia as minhas palavras e que mostrava o calor de duas almas iguais.
Agora, o teu corpo pode ser de dela, tudo em ti pode pertencer-lhe, até o pensamento, mas para mim guardarás aquilo que de mais bonito e esplendoroso tens, por onde demonstras ao mundo quem és, o que sentes e como o vives. O teu olhar continuará a brilhar quando eu passar e será sempre nosso, sempre meu, será a parte de ti que guardarei comigo e terei mais saudades.
O teu olhar és tu, a partir dai tudo poderia ter sido nosso..fazes-me falta…feliz manha dourada…

domingo, outubro 15, 2006

Sonhos perdidos e encontros achados


Os sonhos passaram por nós, como flechas que se enterram no peito, eram verdades absolutas, sem tristezas nem magoas, sinto saudades do teu olhar, da inocência que tudo torna feliz, o tempo é como um gume que vai cortando a esperança lentamente...
Espero que ainda sonhes agora, queria voltar a ver esse brilho nos teus olhos, queria muito que fosses feliz...mais feliz do que eu, do que o meu teatro que transformo em vida, feliz no fundo, feliz por completo.
Não fiques sem sonhar nunca, o sonho alimenta a tua alma e corrompe graciosamente a dos outros. Foste tu a maior loucura insólita que cometi, foste o grande potenciador de sentimentos que desconhecia, despertaste-me assim o sentir.
Amei-te num instante, desejei-te noutros, quis ser tua com uma intensidade infinita, adorei cada pedaço da tua natureza selvagem, puramente culta, mas tudo passou. Deixaste-me para trás no sitio mais cómodo que encontra-te para a minha solidão, mas deveras assustador para mim, tudo foi num breve momento, num pedaço de pergaminho da historia da vida, mas comigo ficou sempre a tua face, o teu timbre e o teu olhar de repouso profundo.
Perdi tempo em pensamentos e sentimentos inúteis, a musica deixou de suar da mesma maneira desde então. Fizeste com que eu descobrisse o desespero e mostraste-me a saudade do que não existe, a saudade do sonho.
Hoje o teu olhar está cravado em mim, sei que me observas e te apercebes que me procuras-te em todas as tuas amantes. Continuas amarrado a mim como no primeiro olhar, como no primeiro beijo, como no primeiro afecto.
Olho-te nos olhos e vejo o teu nu interior a crepitar, a tua tristeza ensombra-te, porque manténs as recordações dos momentos em que foste infinitamente feliz. Na tua alegria exterior encobres o sofrimento...teu...o sofrimento nosso....ai percebo que tu também nunca mais voltas-te a sonhar...

sábado, setembro 30, 2006

Negro


Noite linda, luar perfeito, toque magico, sentimento avassalador. Todas as coisas belas roçam as feias, assim como a dor roça o prazer...
Hoje tenho o prazer de estar sozinha e de o negro cobrir o meu luto de alegria.
Vivo a vida sem ti mas vivo, continuo o caminho de olhos vendados, os meus sentidos estão despertos não para ti mas para mim e para o que me circunda.
No luto canto canções de alegria, que esboçam a minha tristeza. Canto e escrevo para ti, para te sentir e para te esquecer. Todos me acompanham com as suas danças, todos aqueles que já sentiram a dor da perda e choram lagrimas de gelo.
Agora sou negro, a ele devo o meu eu, nele me purifico, giro em torno da sua beleza e liberto toda a minha saudade.
Saudade do vermelho, saudade do beijo, saudade do cheiro...
Sou eu guerreira que luto , sou eu que tenho a força, sou eu que estou fria de sentimentos, quando sair do negro será manha. Uma manha dourada, sorrirei para o sol como saudação. Olharei assim para ti, a partir desse dia, como se fosses um estranho.

Hoje


Hoje estou noutro quarto, um quarto que não é meu nem teu! Tudo é desconhecido, até a pessoa que dorme no meu regaço, estou muito cansada, já foram tantos momentos assim como este, ninguém me satisfaz porque em todas as pessoas que tenho a única que procuro és tu!
Ainda me lembro do teu quarto, em que a cama ficava junto á janela, entre os ramos de uma arvore podia-se visualizar todo um céu só nosso. Ainda me lembro daquele cheiro a velas e incenso, do teu beijo ao acordar...
Hoje não tenho isso, nunca deixo chegar o amanhecer, pego em mim e saio de mansinho para não voltar. Refugiu-me nas estradas que trilho e vou chorando lagrimas que marcam o caminho para casa.
Deito-me e mais não durmo, fico ali sufocada entre todo o passado e o que poderia ser o futuro. Pelo menos, agora, estou no meu quarto e tudo ali é meu, tenho ali as melhores partes de mim guardadas em recordações.
Hoje levantei-me, vou para a cozinha e tento saciar a sede da minha alma com agua, bebo meio litro mas a boca continua seca, choro mais umas lagrimas pela vida miserável que o mundo á minha volta representa, e tenho uma vontade súbita de ir á varanda...
Vou passo a passo, quero ir mas ao mesmo tempo tenho muito medo, vagarosamente continuo o percurso curto até a varanda, abro a persiana, de seguida a janela. Tento que o meu corpo absorva todo aquele frio, todo o frio que está lá fora e acalmo...espreito então em direcção á janela do teu quarto...ainda tens a luz acesa...estas acordado.Encho-me da coragem dos desesperados, vou de camisa de dormir, descalça, com a cara vermelha de chorar, mas não quero saber. Hoje nada me importa...só espero que estejas sozinho...

sábado, setembro 16, 2006

Mundo, realidade e fumo


O crepitar das vozes dos outros bate-me no ouvido, falam para mim, aceno com a cabeça, mas não faço a mínima ideia do que dizem.
Hoje estou longe...estou num mundo onde só entro eu, onde me resguardo de todas as idiotices. Encontrei-te aqui hoje, revi-te e recordei-te como se fosses uma peças que me pertencesse. Cai ai na solidão, outra vez, por me aperceber que a tua presença ainda se encontra nos sítios mas íntimos de mim, estas sempre comigo mesmo que eu não saiba ou queira.
Continuo sozinha num aglomerado de gente, puxo um cigarro, para que o seu sabor entre em mim, ou então para morrer lentamente numa velocidade mais rápida. Todos ignoram o meu estado melancólico, porque já não se lembram de ti, nem de quanto tu fazes parte de mim, mas eu lembro-me. Todos os dias lembro a tua falta e a tua saudade.
Chamem-me louca, chamem-me estúpida, chamem todos os nomes que se lembrarem, pois não há nenhum que eu já não tenha chamado a mim mesma.
Passado todo este tempo, a tua ausência ainda me toca no intimo e estremece toda a minha confiança em continuar a viver sem olhar para trás, sem olhar para ti...apesar de saber que eu todos os dias quando acordo de manha, mesmo quando tenho um calor diferente ao lado, a palavra que me vem á boca é o teu nome. Mergulho no meu sentimento por ti, todos os dias e nele me perco de mim mesma. No meu mundo continuo infeliz, para me manter alegre...para não me tornar insana, assim tento que a tua imagem fique mais difusa...para que de ti só reste o fumo de um cigarro mal apagado...

sexta-feira, setembro 01, 2006

Janela



A janela fechada marca o fim do dia, juntos decidem abri-la para mirar a noite. Noite que os juntou e fez deles o que são hoje, a noite embala-os e abençoa-os porque eles são seus filhos, nasceram com ela e a ela se juntam sempre que são chamados.
O luar inunda toda a divisão, agora não mais fechada para o mundo. Ocorre um beijo, outro e os corpos enlaçam-se numa dança sensual de corpos nus. Continuam, não conseguem parar, agora é tarde de mais, os sentimentos não ouvem nada nem a própria razão. Chovem palavras, carinhos, toques arrebatadores onde se corta o desejo á faca. Vive-se intensamente naquele quarto, onde se abriu uma janela, para que a lua assista.
Os corpos unem-se, estão tão juntos que não se destinguem, consomem-se numa mistura de preto e vermelho, de sangue e de alma...
No fulgor da paixão tudo vem, os corpos flutuam e após o final caem no chão frio...
Acabou tudo, trocam-se olhares e caricias, a plenitude do medo volta, cruzasse um olhar de despedida. Ele abre as asas negras, sai pela janela deixando um corpo sem alma...um calor no espaço que foi dos dois e o cheiro no corpo dela...apenas o isso...a janela fechou...

sábado, agosto 26, 2006

Nunca mais




Sussurro ao teu ouvido a palavra amor, que te entra na alma e fico com a impressão que esboças um sorriso. Estas no teu leito de sono impregnado de todas as coisas tão tuas, estou deitada ao teu lado a mirar-te e sei que já não te pertenço. Sigo cada curva do teu rosto cada traço característico, conto os pormenores e tento decorar tudo, defeitos não encontro nenhum...
Repousas serenamente e nem sentes que ainda estou ali a beber cada poro teu, a lua está alta não posso ficar mais tempo, despeço-me de ti com um beijo sussurrado e com a dor a escorrer-me pelo corpo, sei que este é o ultimo momento em que a tua perfeição vai complementar tudo o que sou, toda a minha felicidade...choro saudades futuras, choro ainda com o teu corpo quente ali, foi a ultima vez.
Saio para a rua, está tanto frio que nem um sobretudo polar aguenta, provavelmente também sou eu que estou fria, deixei todo o meu calor contigo, todo um sonho, toda uma realidade fictícia imaginada pelos dois, abraço-me a mim mesma porque estou só, como estive sempre.Corro para que o vento leve a tua imagem e a tua presença do meu corpo, mesmo assim continuo fria, penso em ti e sei que neste momento a cama já arrefeceu. Chego à estação, passado trinta minutos de caminhada, foi o caminho mais duro da minha vida, pois fugir de mim mesma é impossível. Apanhei o comboio para nunca mais voltar, sinto nojo de mim pelo que vou fazer e pelo que vou deixar, mas não tive coragem de olhar-te nos olhos e dizer...até nunca mais...

sexta-feira, agosto 18, 2006

Voar na solidão


Sorrisos circundam-me e eu não consigo sorrir, faço um esboço mas os meus olhos continuam tristemente vazios.
Faço um movimento inoportuno e sinto-me desconfortável, o ar percorre o meu corpo come se este lhe pertencesse e sinto-me voar. Imagino asas, asas minhas, que me libertem deste desconforto riscado de medos.
Fecho os olhos sinto-te, percebo-te e corrompo-te, sonho, demónio humano insólito que me desmoronas o corpo, a alma.
Deixo-me levar pelas pernas, não sinto nada, nem o Outono que chegou com a suas folhas, que me abrem uma passadeira de caminhos e tem a vida como força própria.
Cheiro a terra molhada, estou desesperada, desespero por ter uma vida que não quero, por ser quem não sou, mesmo por não saber o que somos e o que o mundo é para nós.
Todos à minha volta regurgitam verdades falhadas ou mentiras pitorescas. Pergunto-me como se pode viver na escuridão da mediocridade tanto tempo e ser feliz numa felicidade enganadora. Será que sou eu medíocre? A que vê o que não é suposto e apenas se afunda na idiotice de apenas querer ser livre, livre e voar...
Como tens tu a visão turva, se és tão eu e tão mim? como consegues tu dormir e comungar com este cenário? Vem comigo, abre-te, sente as tuas asas, dá-te ao impulso de voares, cresce no horizonte, contempla-te.
Não aguento mais, o magnetismo de viver não me deixa repousar. Vou-me, descubro que sei voar, que tenho asas e preparo a minha partida sorridentemente no meio do negrume, sinto o cheiro a terra molhada.
Chamo-te mais uma vez, não te levantas, continuas a dormir, eu parto sozinha...enquanto vejo uma lagrima a deslizar pela tua face...

domingo, agosto 13, 2006


Depois fez-se silêncio...
Aquele silêncio que tudo explica, em que as palavras não são necessárias e não encaixam no cenário...
Aquele silencio perfurou o peito porque queria dizer tanta coisa ao mesmo tempo, lançava tantas perguntas e tantas respostas no ar, aquele silencio despertou tudo, e fez rolar a primeira lagrima.
Tinham passado vinte anos e ali estavam eles no primeiro confronto, depois de toda uma tumultuada historia, instaurou-se neles um misto de alegria, raiva e tristeza.
Trocaram olhares e contaram as suas historias, onde viviam, as suas tristezas e decepções, as partidas, as chegadas, as aventuras, as diversões, até mesmo os segredos, tudo se contou naquele encontro de duas pessoas que estavam a menos de dois passos. Fizeram-se sorrisos e exclamações, até se deram gargalhadas.
As saudades liam-se nos olhos dos dois, as lembranças chegaram em jacto, e ouve lagrimas interiores. Eles sabiam que tudo poderia ter sido completamente diferente, mas milagres não acontecem...
Ali estavam eles depois de tantas horas, tantos dias, tantos anos...passaram tantas vidas, sons, paladares e cheiros. No silencio partilharam tudo, nenhuma boca se abriu...o silêncio bastou para saber que o sentimento ainda estava ali...

segunda-feira, agosto 07, 2006

Meio


Eu sinto tudo
a raiva, o rancor
a alegria, a felicidade
o dilaceramento, a angustia
e busquei
o caminho do meio
que era o mais seguro
entre o que senti
e o que fiz com isso
Então desfaço-me das peles
as camadas que construo
quando os sentmentos não são expressados
não são ouvios
não são reconhecidos
Dando aos meus sentimentos
o seu devido lugar
mantendo-me longe
da intensidade, da imensidão
da pura densidade
e do custo da emoção.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Trilhos, caminhos e vontades




Sentada neste vão de escada observo-te meticulosamente, sinto o desejo a percorrer-me a medula. Muitas vezes quando olho para ti sinto saudades de ser menina, agora tudo se tornou muito mais complicado, menos objectivo, mais traiçoeiro...Vou sorrindo enquanto te olho, não reparas, nunca tiveste essa sensibilidade...
Sinto-me tão culpada, tão imunda e tão triste, sou uma como se fosse duas, porque beber do teu riso faz-me bem.
Estas demasiado perto...tento entreter as mãos com alguma coisa, vens e sussurras ao meu ouvido, coro por dentro mas mantenho-me falsamente natural por fora, tento perceber que não podes produzir em mim tantas sensações...
Estão tantas noites e luas para descobrir e eu já me sinto velha e cansada, desta vida que é rápida mas que demora tanto tempo a passar nas horas mortas. Estou perdida e embriagada pela vida, não sei para onde vou, nem muitas vezes sei o que sinto. Relembro-te e sigo na direcção oposta, prefiro enfrentar a trovoada do que ver-te outra vez, amar-te outra vez....
Sinto-te e caminho mais rápido, para um caminho que sei que não é o meu, mas que escolhi para mim, para que o meu trilho fugisse do teu, para que a minha alma fosse livre.
Rasgo assim o passado dos sentimentos, trespasso-os e mutilo-os para não me ouvir a mim mesma , hoje tornei-me na minha e na tua pior inimiga, para poder crescer na solidão que escolhi para mim.
Parte de mim reclama-te a ti e ao teu saboroso aroma que me lembram os dias mais bonitos e o som da própria maresia. Perco-me assim na minha própria mulher, perco-me porque me agarras-te, porque não sei viver sem a tua intelectualidade estimulante.
Chora comigo, agora, porque nos vamos...abraça-me...depois corre para o teu caminho...corre para os braços dela...

segunda-feira, julho 31, 2006

Porta fechada


A vontade de te apagar é tanta, mas a coragem para o fazer é tão pouca, imagino-te ao meu lado a seres realmente tu, a desencadeares em ti o teu processo da verdade do sentimento.
O teu olhar queima o meu e fujo dele como da minha própria morte, muitas vezes quando penso ou olho para ti sinto-me morta, porque não tive coragem, fugi à responsabilidade de ser mulher, de ser pessoa, de ser feliz...
Agora só me resta ver-te ao longe, avistar o teu cheiro e imaginar a tua voz, a nossa barreira invisível, aumenta todos os dias mais um bocadinho, mas em vez de nos afastar, aproxima-nos ainda mais.
Estou ao teu lado não me olhas, mas sentes-me, o teu cheiro mistura-se com o do ambiente e chega-me com carinho ás narinas, tenho tantas saudades tuas, da suavidade da nossa existência conjunta, mas hoje para ti apenas sou mais uma na multidão, que tentas disfarçadamente não dar importância...também tu sentes o meu cheiro e anseias o meu toque encarnado na tua cara.
Caminhamos cada um para seu lado e fechamos ao mesmo tempo portas diferentes, fico contente porque por momentos, míseros segundos, voltei a sentir-te, voltei a sentir-me preenchida...

terça-feira, julho 25, 2006

Sentimento de uma invisivel


O fumo cerca-me, encontro-me invisível...
A crença de ser alguém já desapareceu à muito, não existo, não me compreendo, sinto que apenas sou carne.
Olho-te como estranho, prefiro assim, a tua rudeza e carnificina, consumiram-me por dentro, apanhaste-me na teia e consumiste tudo como lume...
A luz chegou, sou apenas mais uma invisível, apenas a invisibilidade me transborda, sou corpo, sou apenas corpo...
Cresço com isto, continuo a existir com esta tormenta, quero-te mas não te suporto, desejo-te mas tenho nojo da forma como olhas a vida, fedes mas o teu odor atrai-me.
Sigo no comboio e olho o horizonte, estou longe de tudo, longe de ti e do teu cru, a minha essência renovasse á medida que me afasto, sinto-me viva, sinto-me mulher...
Conto os dias, as horas para não te sentir cá dentro, para não querer o teu beijo e o teu toque frio, gélido e negro.
O dia nasce, a vida corre, tudo passa, percorro a memória para apagar tudo, para que tudo fique esquecido. A partir de agora quero ser gelo, quero que me toques, me sintas fria e que o arrepio percorra o teu corpo, porque também tu és só carne...

Nada sinto
Nada respiro
Nada carrego no peito
Nada penso
Nada transpareço
O tempo não sente o nada
E o nada corre devagar

Devagar me entrego
Devagar me transfiguro
Devagar o nada enche o espaço do futuro
Nada há...Nada existiu...

segunda-feira, julho 17, 2006

Corpo e Alma


Esta angustia de te ter está a dar a minha alma aos pássaros. Desperdiço os dias vagueando nas ideias remotas do passado.
Hoje chove e isso deixa-me ainda mais melancólica, a vida é a maior injustiça que conheço, pois já te perdi mesmo sabendo que ainda estas comigo. Não quero que vás, quero que me leves dentro de ti e que me guardes numa caixa magica, especial, única...
Sei que todos os dias chegamos mais perto do fim e tento diariamente não pensar nisso, ganhar coragem sempre q estou junto de ti a saborear-te, provar o inimaginável.
Mas quando não estas perto, invade-me o medo, e volta a turbulência de pensamentos que me agitam e vão envelhecendo de dor...de receio
Dependo de ti, do teu eu, da tua força bruta e subtil, do teu jeito meigo de seres Homem, da tua presença muitas vezes discreta mas indispensável.
É quando fecho os olhos que te sinto, é quando respiro que te ouço, é quando te abraço que fico cheia de um amor que não existe....e mesmo assim sei que mereces muito mais do que a medíocre dependência que tenho de ti!
Quando fores embora, num dia de chuva como hoje, ficarei à janela a ver a água bater no vidro, cada gota será uma picada no meu peito, já endurecido
Ninguém, nem eu nem tu, pode evitar o inevitável, mas podes sempre abrir a caixa quando quiseres...nela estará a minha voz...nela estará o meu sorriso...nela serei sempre tua...
Porque no escuro um dia me fizeste ver a luz, porque consegues ver-me sempre...até quando sou invisível...

domingo, julho 16, 2006

Dor e vontades


A noite envolve-me, com ela sinto-me gélida, as saudades de um abraço quente , de um olhar macio e de umas mãos carinhosas, sentem-se muito mais no negrume da noite!
Vejo-te, sinto-te comigo, a tua voz soa na minha cabeça e não me deixa perder a esperança que tudo acabe!
A malvadez do mundo sufoca-me, este egocentrismo é pura e simplesmente senil! Solta-me! Leva-me! Nos teus olhos sei que encontro a paz!
Continuo aprisionada aqui no escuro e as minhas memorais vão aumentando o minha angustia. Queria que elas fugissem que me deixassem repousar, tranquila! Estou febril nauseada, cadavérica e sinto-me cada dia a morrer aos poucos! Quero que o meu espirito flutue porque não aguento mais o cheiro a mofo nem a cadáveres putrefactos, não posso estar louca, eu sei, eu sinto até o cheiro se consegue tocar.
Neste momento até as lagrimas que me caem no rosto são gelo, nada em mim está vivo, tudo morre, não me tenho de pé, mal posso respirar, falta-me o sangue nas veias e a clareza nos olhos.....só a tua lembrança insiste em ficar.....por favor quero dizer Adeus!


Este texto é para todos aqueles que morrem no desespero da dor, sozinhos, numa cama branca e fria!

sábado, junho 17, 2006

Reencontro


Percorro-te com o olhar, já passou tanto tempo desde a ultima vez. Não tiveste saudades minhas, pois não? Vejo os remorsos presentes nos teus olhos.
Quase te leio o pensamento, estas a pensar que apesar de cansada estou cada vez mais linda, e encontras-te mais uma qualidade em mim.
Olho-te ao longe, não mudas-te, mas não estas diferentes...noto então que fui eu que mudei, que o sentimento já não provoca as mesmas sensações de antes...não tenho um sorriso largo na face, apenas sorriu por ter ver outra vez.
Não sei o que fazer, sinceramente não me apetece conversar...mas tu vens, tens necessidade de mim, necessidade das palavras e da menina apaixonada que deixas-te para trás!
Apercebes-te que essa menina, em quem pensas-te inconscientemente durante todos os dias, desapareceu. Fez-se mulher e o olhar que te permitia leres-lhe a alma fechou-se para sempre. Ficas-te triste, no teu intimo correm lagrimas dolorosas, que arrastam tudo o que sentis-te e escondes-te de ti próprio...e vem tudo à boca como que um vomito, apercebes-te que não queres este adeus, que queres tocar na sua alma, no seu corpo, fazer parte dela. Sabes que ela é o teu todo, corres e tentas reatar o queimado, o destruído por ti mesmo.
Corres atrás dela, tentas despachar-te...ela já vai longe, corre, corre, CORRE, já vistas-te os seus cabelos, mais um pouco, s mais um pouco...
Quando chegou perto de mim já não me podia tocar, tinha levantado voo...virei-lhe as costas não por vingança...mas por ser o mais correcto, segurei na mão do meu anjo e nos eus braços chorei...ele peguntou-meporque estava a chorar...eu nunca respondi...Não podia dizer que tinha perdido uma parte de mim, que nunca tinha sido minha...a minha outra parte, tinha-te perdido para sempre...

sexta-feira, junho 16, 2006

Amanha


Amanha é o dia da partida, entre a encruzilhada da chegada de novos sentimentos e novas vidas. Amanha estou aqui enquanto o burburinho e a correria frenética da vida entram no ouvido dos desalojados, dos solitários...
O vento vai bater na janela, amanha, como que a anunciar a sua rebeldia, vai trazer a chuva com ele, que são lagrimas de quem por esse mundo chora! Sim, será um belo dia amanha, porque apesar da chuva e do vento, as pessoas continuaram a sorrir umas para as outras, a amar, a discutir ...dando-se assim ao mundo. A grande festa da vida inundará os céus amanha, polvilhando-o de cores, ruídos e paladares que nem todos vêem e só os bons observadores conhecem!
Catem todos amanha, estejam felizes, felizes por viver mais um dia, por caminhar mais um dia. Tudo pode acontecer amanha, vão surgir ovas ideias, novos amigos, novas oportunidades.
Hoje passou mais um dia, já é noite e as estrelas retém toda a iluminação existente no céu, são elas que comandam a noite, são elas que me fazem pensar no dia de hoje.
Mas aqui no meu leito de repouso sadio, os pensamentos inconscientes, revolvem-me a memória e a inquietam-me com as perguntas, que muito menos deviria perguntar quanto mais procurar a resposta.
Assim sei que apesar de toda a agitação de mais um dia feliz, aquilo que deveria estar apagado encontra-se, verdadeiramente, vivo dentro do meu peito rebelde, inconsciente e perturbado!
E pergunto, sem obter resposta:- Onde e como estarás tu amanha?

domingo, junho 11, 2006

Sentimentos do Luar

Sinto o ruido
ping ping.....
penso na frescura que perco,
no paraiso lá fora.

Sinto-me quente, tonta.
Só no desejo do toque
Da rebeldia do meu corpo
Ergo-me...mas sei que não posso
Chamo-me a razão
Não respondo
Não quero

Saio recebo-te como minha
Sinto-me assim...leve...
Minha amada noite

sábado, junho 10, 2006

Cor e asas


Acordei a pensar em ti, sim infelizmente esta foi mais uma noite que acordei a pensar em ti! Enfim algo já tão banal mas que me consome e dilacera por dentro...todos os dias...sempre que a manha chega e abro os olhos...
Hoje resolvi sair, sentir a vida que gira à minha volta, ver o movimento das pessoas que são complexamente simples.
Ver a felicidade no rosto dos outros faz bem, irradia a alma de todas as cores. Assim sai, fui sentir o vento na pele, ver o sol, as arvores balançam na sua dança do ventre infinita porque o vento insiste em brincar com elas. É pena eu estar com demasiado calor.
Entrei num café para beber uma água gelada,e foi ali, sozinha, que me lembrei do que me tinha trazido ali, naquela manha.
Aquela manha harmoniosa e primaveril, para tantas pessoas que cirandavam à minha volta e que riam e caminhavam felizes, aconchegadas pela vida.
Eu continuava sentada sem saber qual o final da estrada que percorro todos os dias incessantemente.
Inspiro fundo e peço a todos os deuses que a felicidade trasbordante entre dentro de mim, e me acompanhe mais um pouco, só até ao fim do dia, precisava tanto de estar um pouco feliz...
Sempre que surge a tua imagem, ainda me sinto pior, porque te desejo, porque te quero, porque os teus olhos me fazem esquecer e perder a noção o tempo, porque és tu e porque eu me sinto completa ao teu lado.
Por vezes pergunto-me onde escondes as asas? Onde aprendes-te a voar? As tuas asas são pretas ou brancas? Quem és tu? ANJO, ser alado que me atormenta o espirito e fazes com que a minha alma te acompanhe nos voos razantes que fazes na terra...e eu fico aqui no chão a desejar um dia também saber voar, ter asas e subir contigo, lá no monte branco, onde estaria a nossa casa e onde nos iríamos aquecer um ao outro no rigor do inverno...seria lindo viver entre pinheiros constantemente bordados a neve, rodeados de animais que teriam tanto de selvagens como de mágicos. Seria uma vida magnifica, mas é apenas um sonho idiota e tolo... Afinal eu não vejo a cor das tuas asas e ainda nem sequer tenho as minhas...

invisivel


Responde-me em silêncio;
toca-me sem usares os membros;
beija-me sem a boca;
caminha até mim sem as pernas.

Rasga os meus sentidos...
Perdoa a minha ousadia
ou então...
Para de estar perto quando estas longe...

breu


Ouço o silêncio e refugio-me no seu obscuro, tento esconder-me do sentimento de não querer estar aqui! Sei que estas perto, ouço a tua respiração a quilómetros, ouço-te a respirar por ela a viver para ela, a sonhar com ela...a saboreá-la! A minha revolta é grande, sinto-e a ferver por dentro por saber que não tenho espaço aqui.
Doi muito estar nesta cama sozinha, com a gelidez da noite que envolve todo o solitário enegrecido pela saudade! A vida é assim nem todos tem um sorriso estampado na cara, não é a todos que a felicidade toca com as duas mãos de seda pura.
Procuro-te nos meus lençóis, mas apenas encontro o vazio de coisa alguma, então tento lembrar-me dos teus olhos, das tuas palavras e da atenção (misera atenção) que um dia me dedicaste.
Estou só, não quero isto, mas não está nas minhas mãos decidir...amanha é outro dia, é nisso que penso todos os dias e é essa força que me agarro com toda a lealdade que conheço.
vou dormir e fechar os olhos e em paz vou deliciar-me com o descanso do corpo pois esse é dos poucos prazeres que me restam...

Escrevo


Neste acesso de raiva escrevo, escrevo para mim e para o meu intimo. Para libertar tudo o que vou armazenando ao longo do tempo na minha concha, na minha casca, na minha caixa.
Só eu sei o que custa estar aqui sem ti, neste silêncio perturbador que não acaba,é tudo breu...esta dor incógnita que me corroí a alma obriga-me a rir para o resto do mundo, a esconder! Tenho vergonha de tudo isto...deste complexo sentido de ser, desta existência macabra e hipócrita que me obriga a mostrar o meu lado sempre de fachada.
Deixa-me sair, deixa-me fugir, quero sentir a liberdade de ser, era tudo tão mais simples se não estivesses aqui, se a tua indiferença e constante ignorar da minha pessoa não me ardesse assim tanto no peito...Então escrevo porque nas palavras toco a liberdade e mesmo sem tu saberes escrevo para ti e para te dar a conhecer aquilo que sou.
Queria que sentisses a minha falta tanto como eu sinto a tua presença em mim, a tocar cada centímetro da minha pele...Agora descasa por mim e por ti, porque a mim não me é permitido descansar, a minha alma inquieta grita-me a cada minuto o teu nome...assim vou vivendo, assim vou existindo....

O impossivel da verdade


A lua está linda, a sua imagem e beleza vão-me percorrendo as entranhas e deixando uma sensação de paz, nesta alma já tão atormentada...O dia foi longo parece que passaram anos, ainda bem que está aqui o luar e que ao menos ele me conforta a alma...um pouco, só um pouco não o necessário.
O medo continua aqui, o medo de olhar para o azul do céu e ver outro azul que é inalcançável ...proibido. Fujo, corro, escondo-me deste turbilhão de sentimentos que me persegue, que me inquieta. Ponho a mascara, a armadura e subo ao meu palanque...lá bem alto...para não me atingires com a plenitude daquilo que és, com o teu ser, com o teu espirito, que tanto desejo mas a que todo o custo ignoro.
É isto que estou, é nesta estúpida comunhão de sentimentos que me encontro, queria ter-te aqui, no meu colo, abraçar-te no meu regaço e chamar-te meu...sim meu...admito com toda a raiva e revolta interior que existe no mundo que te quero desesperadamente para mim...então caiu do pedestal que criei e acordo para o real, não te vejo para mim, pois se há coisas impossíveis tu és uma delas.
Então sento-me aqui...só sempre só...no meu canto...o resto é fumo...excepo a luz da lua...e tenho pena de não voar...de não poder abrir a janela, elevar-me, erguer os braços e receber a noite como minha...entregar-me assim a ti...
Assim, choro saudades de nunca te ter tido, de não te ter e porque nunca te terei. Esperarei por ti numa espera infinitamente longa, que provavelmente me levará ao desespero. Mas podes ter a certeza que haverá sempre um momento em que vou sorrir, vou rejubilar de alegria, onde a minha voz e gargalhada se vão ouvir na montanha...o momento em que fecho os olhos e o mundo é meu e todos os impossíveis se tornam reais...sim estarás sempre no meu sonho...

Fim de Tarde

- olá! que andas a fazer por aqui?
- vim tomar café.
- Sozinha?!
- Sim- disse sorrindo- por vezes é muito bom estar sozinha.
Segui-se um dialogo de horas, com grande com grande entusiasmo de ambas as partes, riam á gargalhada juntos...aquela sensação era mesmo agradável. A conversa era tranquilizante e estava a fazer bem aos dois. Veio mais uma água e mais umas histórias, por vezes banais e a conversa fluía.
Ela não sabia porque não lhe tinha dado atenção mais vezes, porque nunca tinha reparado assim muito nele, era bom estarem ali, ao sol do final da tarde, com o céu manchado das cores mais quentes do arco-íris e com o calor emanado pelas pessoas e pelo tempo.
- Bem tenho de ir embora- disse ela enquanto olhava apressadamente para o relógio- já perdi a hora
despediram-se com um beijo...Enquanto caminhava para casa, começou a pensar no que tinha acontecido deparou com um sorriso surgido de repente na sua cara...já não se lembrava da ultima vez que tinha sorrido, achou estranho tinha sido mesmo um final de tarde bem passado. Ele era realmente extremamente interessante, não só pelos olhos ou lábios perfeitos, tinha encontrado nele uma beleza diferente, uma beleza pessoal e única que lhe iluminava a presença, sorriu de novo e respirou fundo...reparou então que o Verão já tinha chegado...
Que pena que tivesse de ser assim e que provavelmente só o veria daqui a meses ou até mesmo anos. A vida por vezes é injusta, pensou, mas tinha passado um momento muito agradável e no fundo era isso que importava...Pena que o seu coração dizia o contrário.

Saiu


Aqui estou sentada no meu sitio predilecto, a pedra da cozinha, acompanhada do cigarro que me corrói os pulmões e sinto-me só...só comigo mesma e embrenhada nos meus pensamentos. Quero que a tua presença se desvaneça com o fumo, mas isso é impossível, infelizmente deixo que os meus pensamentos me dirijam até ti.
Ai noto que nenhum ser humano pode apagar a sua história, ela fica entranhada na pele, nas vísceras...na alma (ainda mais que no corpo). Continuo a observar o fumo no sei total esplendor branco-acinzentado e reparo na janela aberta da cozinha que deixa passar o ar quente da tarde, este abraça-me como se fosse meu irmão, e no fim de contas é mesmo, nele é transportado um cheiro a rosas do jardim a terra seca e a montanha...
Continuo a pensar em ti e de como o teu cheiro é parecido...sim ainda me lembro do teu cheiro, que na realidade sempre quis e sonhei que fosse meu. O cigarro acabou acendo outro para não perder o ritmo, pelo menos vou enchendo os pulmões de fumo, já que não posso encher a cabeça de bons pensamentos...Está um dia lindo hoje e eu dentro da cozinha a vegetar, tenho sempre a possibilidade de telefonar a alguém, mas penso que os outros não merecem o meu mau humor, não seria muito injusto está um dia mesmo bonito.
Preparo um café, talvez me dê energias ou pelo menos mantém-me ocupada, martirizar-me por causa das consequências dos meus actos não vale a pena eu já as conhecia...sou adulta não posso cometer erros isso é-me exigido constantemente.
continuo aqui a sentir-me miserável , nem o café ou o tabaco ajudam o tédio, este sentimento encontra-se em mim há dias...Nisto toca o telefone...ouço uma voz conhecida, familiar...a dizer que sente a minha falta ... digo que não sou companhia para ninguém hoje...a voz insiste...eu sedo.Sai de casa ainda com uma réstia de sol no horizonte, chego e recebo um beijo na testa e sorrisos devido a minha cara entediada. É nesse momento que o meu corpo se inunda de um amor, de um calor e de um carinho tocante e envolvente...e tudo isto nem mesmo o teu cheiro consegue...ai descubro a felicidade...sim aqui no lugar onde está a amizade...