sábado, setembro 30, 2006

Negro


Noite linda, luar perfeito, toque magico, sentimento avassalador. Todas as coisas belas roçam as feias, assim como a dor roça o prazer...
Hoje tenho o prazer de estar sozinha e de o negro cobrir o meu luto de alegria.
Vivo a vida sem ti mas vivo, continuo o caminho de olhos vendados, os meus sentidos estão despertos não para ti mas para mim e para o que me circunda.
No luto canto canções de alegria, que esboçam a minha tristeza. Canto e escrevo para ti, para te sentir e para te esquecer. Todos me acompanham com as suas danças, todos aqueles que já sentiram a dor da perda e choram lagrimas de gelo.
Agora sou negro, a ele devo o meu eu, nele me purifico, giro em torno da sua beleza e liberto toda a minha saudade.
Saudade do vermelho, saudade do beijo, saudade do cheiro...
Sou eu guerreira que luto , sou eu que tenho a força, sou eu que estou fria de sentimentos, quando sair do negro será manha. Uma manha dourada, sorrirei para o sol como saudação. Olharei assim para ti, a partir desse dia, como se fosses um estranho.

Hoje


Hoje estou noutro quarto, um quarto que não é meu nem teu! Tudo é desconhecido, até a pessoa que dorme no meu regaço, estou muito cansada, já foram tantos momentos assim como este, ninguém me satisfaz porque em todas as pessoas que tenho a única que procuro és tu!
Ainda me lembro do teu quarto, em que a cama ficava junto á janela, entre os ramos de uma arvore podia-se visualizar todo um céu só nosso. Ainda me lembro daquele cheiro a velas e incenso, do teu beijo ao acordar...
Hoje não tenho isso, nunca deixo chegar o amanhecer, pego em mim e saio de mansinho para não voltar. Refugiu-me nas estradas que trilho e vou chorando lagrimas que marcam o caminho para casa.
Deito-me e mais não durmo, fico ali sufocada entre todo o passado e o que poderia ser o futuro. Pelo menos, agora, estou no meu quarto e tudo ali é meu, tenho ali as melhores partes de mim guardadas em recordações.
Hoje levantei-me, vou para a cozinha e tento saciar a sede da minha alma com agua, bebo meio litro mas a boca continua seca, choro mais umas lagrimas pela vida miserável que o mundo á minha volta representa, e tenho uma vontade súbita de ir á varanda...
Vou passo a passo, quero ir mas ao mesmo tempo tenho muito medo, vagarosamente continuo o percurso curto até a varanda, abro a persiana, de seguida a janela. Tento que o meu corpo absorva todo aquele frio, todo o frio que está lá fora e acalmo...espreito então em direcção á janela do teu quarto...ainda tens a luz acesa...estas acordado.Encho-me da coragem dos desesperados, vou de camisa de dormir, descalça, com a cara vermelha de chorar, mas não quero saber. Hoje nada me importa...só espero que estejas sozinho...

sábado, setembro 16, 2006

Mundo, realidade e fumo


O crepitar das vozes dos outros bate-me no ouvido, falam para mim, aceno com a cabeça, mas não faço a mínima ideia do que dizem.
Hoje estou longe...estou num mundo onde só entro eu, onde me resguardo de todas as idiotices. Encontrei-te aqui hoje, revi-te e recordei-te como se fosses uma peças que me pertencesse. Cai ai na solidão, outra vez, por me aperceber que a tua presença ainda se encontra nos sítios mas íntimos de mim, estas sempre comigo mesmo que eu não saiba ou queira.
Continuo sozinha num aglomerado de gente, puxo um cigarro, para que o seu sabor entre em mim, ou então para morrer lentamente numa velocidade mais rápida. Todos ignoram o meu estado melancólico, porque já não se lembram de ti, nem de quanto tu fazes parte de mim, mas eu lembro-me. Todos os dias lembro a tua falta e a tua saudade.
Chamem-me louca, chamem-me estúpida, chamem todos os nomes que se lembrarem, pois não há nenhum que eu já não tenha chamado a mim mesma.
Passado todo este tempo, a tua ausência ainda me toca no intimo e estremece toda a minha confiança em continuar a viver sem olhar para trás, sem olhar para ti...apesar de saber que eu todos os dias quando acordo de manha, mesmo quando tenho um calor diferente ao lado, a palavra que me vem á boca é o teu nome. Mergulho no meu sentimento por ti, todos os dias e nele me perco de mim mesma. No meu mundo continuo infeliz, para me manter alegre...para não me tornar insana, assim tento que a tua imagem fique mais difusa...para que de ti só reste o fumo de um cigarro mal apagado...

sexta-feira, setembro 01, 2006

Janela



A janela fechada marca o fim do dia, juntos decidem abri-la para mirar a noite. Noite que os juntou e fez deles o que são hoje, a noite embala-os e abençoa-os porque eles são seus filhos, nasceram com ela e a ela se juntam sempre que são chamados.
O luar inunda toda a divisão, agora não mais fechada para o mundo. Ocorre um beijo, outro e os corpos enlaçam-se numa dança sensual de corpos nus. Continuam, não conseguem parar, agora é tarde de mais, os sentimentos não ouvem nada nem a própria razão. Chovem palavras, carinhos, toques arrebatadores onde se corta o desejo á faca. Vive-se intensamente naquele quarto, onde se abriu uma janela, para que a lua assista.
Os corpos unem-se, estão tão juntos que não se destinguem, consomem-se numa mistura de preto e vermelho, de sangue e de alma...
No fulgor da paixão tudo vem, os corpos flutuam e após o final caem no chão frio...
Acabou tudo, trocam-se olhares e caricias, a plenitude do medo volta, cruzasse um olhar de despedida. Ele abre as asas negras, sai pela janela deixando um corpo sem alma...um calor no espaço que foi dos dois e o cheiro no corpo dela...apenas o isso...a janela fechou...