quarta-feira, dezembro 26, 2007

O Tempo ao Anoitecer


Quando olhou para ele já sabia que o amava, amava-o há muitos anos, e amara-o já antes disso... mesmo assim já velha e enrugada, sabia que ele ainda a achava atraente, bonita e magnetizante, mesmo não guardando uma nesga daquilo que era.
Olhava para ele e sabia que queria mais do que uma vida, aquela sabia-lhe a pouco perto da pessoa que era a encarnação da felicidade, que era o conforto e todos os sentimentos genuínos juntos, apesar da idade sentia-se sempre criança ao lado dele. Não sabia como tinham passado tantos anos, ela tinha deixado que o tempo corresse sem se aperceber disso, infelizmente agora era tarde...
Estava a morrer e sabia-o, guardava todos os dias para si aquele segredo, todos os dias pedia só mais um dia, não por ela mas por ele, sabia que a sua morte viria como a noite para os olhos dele mas nunca mais essa noite passaria...
E ele lá continuava na atribulada azafama de um reformado, podava as laranjeiras com pormenores sofismas desnecessários, ela amava-o por isso, por isso e por tudo, amava-o mesmo quando resmungão entrava pela casa a relatar algum acontecimento menos comum, com aquela pele queimada do sol e a expressão grave estampada na cara, e dava-lhe um beijo apressado a dizer que tinha de ir buscar qualquer coisa a Vila.
Amava-o infinitamente... pelo intrincado dos seus olhos, pela facécia das suas palavras frescas de manha e sobre tudo pela paixão que dedicava a tudo o que fazia.
No dia em que morrer, ela sabe se lhe perguntarem se quer outra vida irá dizer que sim, e dá-lha a ele, para ele a poder viver, mesmo que fosse nos braços de outra, amava-o mais muito mais, muito para alem do egoísmo.Observou-o lá ao fundo e reparou que já estava a anoitecer, e pediu mais uma vez, só mais um dias, mais um dia para o amar mais um bocadinho...

sábado, dezembro 15, 2007

Luxuria


No meu de tanto envolver a inocência já se tinha ido embora, ela e toda a razão que se encontrará dentro deles os dois e dos seus corpos agora suados e escaldantes.

Foi ali no meio do negrume e da terra húmida que se deu o acto, o pecado a desonra. Desonra de quem? Não se sabe ao certo, talvez dos dois que caíram nos desatinos do instinto latente.

Não se amavam, não se adoravam, nem sequer se conheciam, apenas saciavam o prazer de ter outro corpo no deles, outras mão suaves a tocar todos os pontos com desejo, a descobrir todas as partes fracas, a envolve-los com uma sede animal de querer, eram naquele instante duas pessoas juntas mas ao mesmo tempo concentradas em si, corpo.

Foi ali naquele chão que o mundo parou por segundos e assistiu a desonestidade de fracas personagens de vida real e quotidiana. Ali se envolveram e rebolaram com o pudor normal de dois desconhecidos familiarizados um com o outro.

E eis então que o prazer veio, veio ele e logo a seguir, de raspão e veloz a vergonha e a imundice de quem sabe e não precisa de o ouvir, nem sequer de o relembrar.

Sem despedida e sem um adeus, sem um beijo, sem piedade. Num lugar que de quente se consumiu, ficou sem vida, sem sentimento, sem o absoluto do vazio e do nada.

Espero e Encontro


Espero que a vida não passe por nós, que fique sempre por aqui a rodar num sopro profundo!

Espero que o luar fique sempre para "eluminar" esta estrada quente que fisicamente se desenrola em caminhos perspicazes de querer, assim espero que fique ali com os sorrisos banais de todo uma dia á dia comum, que de tão comum e vulgar se transforma em extraordinário, dinâmico e interpretativo.

Espero aqui com as certezas da montanha que gela no inverno e ama o verão que a liberta com o degelo dos aglomerados de neve bem fria, que queima a pele frágil.

Encontro-me aqui no chão a olhar a lua que fica sempre assim quieta para mim e me faz companhia enquanto não chegas e me abraças com os beijos. Encontro-me com os meus pensamentos que me transportam neste imaginário tão nosso e espero...

Encontras-me sempre como sou, despida e de metal, porque no fundo das minhas fraquezas tenho a nossa força e a nossa coragem arrebatadora. Assim espero e encontro a resposta para um sentimento chamado Amo-te...