quarta-feira, novembro 08, 2006


Parei de te escrever hoje, porque nunca me lês-te. Na luz ténue do meu quarto guardo-me de todo o sofrimento que me impões. Aqui sinto-me protegida, longe da tua carne que me aflige.
Cheiro as minhas mãos para ver se ainda têm o meu cheiro, pois há dias que nem me reconheço a mim mesma, e travo batalhas, batalhas para voltar para mim.
Fecho os olhos e penso em coisas felizes, como nos dias em que saia e dava grandes passeios, já não me lembro para onde foi aquele olhar, olhar de menina que não existe mais.
Estava contigo, completamente viva por ti. Preciso do teu abraço outra vez e que me sussurres ao ouvido as tuas verdades que eram palavras, amei-te para sempre nesses momentos…
Chove e observo cada gota de chuva que cai, gosto da sua transparência, queria que ela fosse minha e te trouxesse de novo. Deixo que o sol se ponha para mais um dia sozinha, e volto a cheirar as minhas mãos, o cheiro ainda não está lá, o meu cheiro…
Ai tenho outra vez vontade de escrever, ponho-me nua no papel, num papel que nunca lerás. Dispo-me para ti como antigamente, dispo-me até ao osso. Hoje vou pegar no meu desejo e torna-lo bonito.
Assim no meu quarto fui feliz, o meu olhar brilhou por segundos porque as palavras são mágicas, saborosas, tentadoras….
Aquelas palavras foram para ti, foi como se estivesses ali a ouvir o riscalhar do papel.
Adormeci contigo em mim, com todas as palavras sobre o meu corpo…adormeci despida de alma…

Manha Dourada


As estrelas caem e a manha dourada aparece com a luz que vem sorrindo para um novo dia, ilumina assim esta rua minha que é tão de todos. Ainda estou acordada, passei toda a noite em branco. Relembro os teus olhos e o olhar de paixão, nunca mais vi esse olhar, procuro-o em todos os homens, em todas as pessoas e não o encontro.
Olhar que me absorvia, que me levava para outra realidade, uma realidade mutua onde a nossa ligação era o respirar, era a liberdade, era o tudo.
Vivo agora sem a sensação de ser arrebatada só com a ligeira presença de ti, o teu cantar rouco e a voz forte que me segurava a mim própria.
Sente todo o meu desespero nesta manha em que não estamos juntos e respiro todo o verde pinho porque não tenho o teu azul. O nosso azul que brilhava só para mim, que bebia as minhas palavras e que mostrava o calor de duas almas iguais.
Agora, o teu corpo pode ser de dela, tudo em ti pode pertencer-lhe, até o pensamento, mas para mim guardarás aquilo que de mais bonito e esplendoroso tens, por onde demonstras ao mundo quem és, o que sentes e como o vives. O teu olhar continuará a brilhar quando eu passar e será sempre nosso, sempre meu, será a parte de ti que guardarei comigo e terei mais saudades.
O teu olhar és tu, a partir dai tudo poderia ter sido nosso..fazes-me falta…feliz manha dourada…