sábado, dezembro 27, 2008

Dia Normal


Já não temos tempo, tempo para escrever, para mergulhar no mundo da fantasia imaculada dos sonhos reais, reais sim porque se tornam reais quando as palavras roçam o papel, qualquer papel, até aquele que anda amarrotado no meio do bolso do casaco habitual...
Onde andam as palavras que nos fogem entre as mãos, quem nos turva os sentidos desta forma, é o mundo é a correria, eu digo que é o tempo...
É ele que nos corre á frente, é ele que dita toda a mártir tarefa usual e ordinária de todos os dias, aqueles dias pequenos que passam só com o relógio a correr na velocidade infernal dos momentos pouco apreciados, pouco vividos, pouco saboreados.
Onde ficam os sabores vermelho violeta, os cheiro das vidas agradáveis, onde se encontra a felicidade que todos emanam no sorriso dos comuns...
Eu apenas sei do tempo, olhando para o tic tac do meu relógio, cronometro toda a vida que é imediata e corro, corro não sei para onde nem muito bem porque...
Deixo assim as palavras e os sentimentos e corro desesperada, o mais rápido e o mais veloz que consigo e tento seguir aquele caminho não sei bem para onde...
Onde pára o tempo dos dias normais e secos como pedras... onde para esta demanda descabida... quando posso respirar outra vez...
O tempo não para, mas eu parei o meu tempo e paro todos os dias cada vez que corro para os teus braços, e ai, ai sim as palavras e os sentimentos são meus outra vez...
E escrevo, num papel pequenino que trazes no bolso as palavras que guardei durante tanto Tempo...

sexta-feira, outubro 31, 2008

Fundo


Aqui no fundo do mar onde me sento por dias indeterminados e infinitamente longos ouço o barulho do nada e do sossego que me circunda, rodopia por aqui a calma e a paz do negro infinito, da negra solidão, da quietude e estagnada vida...
Aqui os dias não passam, debaixo de água não acontece nada, não se vê e não se acredita, aqui não se sonha não se projecta, não se esperança não se crê na virtude.
Todos os dias são iguais uns a trás dos outros, indistintos e insolúveis...
Aqui no fundo, sozinha com os medos e pensamentos psicóticos, aguento está liberdade asfixiante, da dormência da vida, da estagnação e findo todos os dias mais um fragmento de mim mesma... Aqui a escuridão não passa, não conforta e tudo é lento até a morte...

terça-feira, setembro 30, 2008

Volta



Se eu não voltar, não fiques a minha espera, cresce e voa como só tu podes flutuar.
Parto com todo o sentimento de mais uns dias em que me entrego e te ofereço todas as coisas que conheço, não quero que me vejas a ir embora assim com esta presença triste e entranha de murmúrios medrosos...
Se eu não voltar sorri, porque estás nas memórias cristalinas e crispadas que me são familiares.
Deixo-te respirar mais uma vez ao pé de mim, da minha pele e do meu verdadeiro eu profundo e sedoso, queria-te aqui debaixo da minha derme sempre bem protegido de um ou outro sentimento mais cruel que o mundo te queira entregar...
Se eu não vier, voa, voa para longe com toda a força que demonstras no olhar, e persegue-me, agarra-me, prende-me e liberta-me desta pressa de chegar a um dia que não se avizinha ao longe...
Hoje não chego, é mais um daqueles dias em que parto, e partir é ao mesmo tempo ficar disjunta em partes iguais, que me doem e me trespassam, porque transito entre dois lugares, aquele onde me aparto e outro onde me deveria encontrar...

Se esta noite tiver que ficar aqui a olhar-te nas memórias, aparece no escuro e no encoberto da noite porque em mim há sempre lugar para ti minha eterna metade... a porta está aberta.

quinta-feira, julho 31, 2008

Tempo


Adeus meus amigos... adeus até um dia, que as boas horas vos acompanhem...
Não quero que fiquem tristes neste dia, porque se não fosse o ultimo era um dia como os outros.
Sorriam meus amigos, porque as recordações são imortais, mesmo depois de todos os adeus a que o tempo nos obriga, a memória trás sorrisos tristonhos.
Aguentem-se meu amigos porque ficaremos para sempre na memória nos dias felizes.
Voltem para mim um dia com toda a disposição e graça, esperem por mim no café com o espirito aberto e um cigarro, para que o fumo nos envolva e aconchegue, e para que assim o tempo pare por breves instantes.
Levem as memórias e preencham-se com elas, imaginem todos os reencontros até se tornarem banais e menos dolorosos, sejam saudosos meus amigos... sejam cônscios...O tempo para nós acabou meus amigos... adeus meus amigos... apesar de todo, este é mais um dia como os outros o dia do fim... mas se pensarmos bem não estivemos nós sempre sozinhos...

sábado, julho 26, 2008

Senhora Bonita


Três meses de pó e de estrada para chegar aqui por fim e descansar. Soltar um grito de revolta e ver-me sozinho nos meus pensamentos fatais de nómada contrafeito.
Passaram três meses de poeirada e de esforço de quem já não sabe viver sem nada do que deixou para trás.
Deixei-te ali linda de morrer com as ruas iluminadas e os murmúrios dos sapatos na calçada, deixei de te ouvir a cantar para mim as palavras que me ensinas-te a experimentar.
Por isso te escrevo hoje Senhora Bonita de trajes elegantes, e te digo que te reconheço como minha e como parte da minha felicidade, por isso te deixo imaculada na tua beleza bravia e rude que me transpira também a mim na pele.
Ai te deixo sozinha e com a saudade que me devora, com a sede de que um dia te pertenceu e no final de todos os dias quer voltar para o teu leito.Então já longe depois de tanto pó, te abraço na memória de um tempo que findou e de uma recordação demasiado bonita para ser por num papel em branco demasiado bonita para se por na consciência...na razão...

sábado, maio 24, 2008

Morango e Cereja


Beija-me com esses lábios, peço-te com mil cuidados e sem precauções...Rasgo-me em agonia de te olhar e não te ter, toca-me, responde-me com consentimento...
Preenche-me com esse toque que me arranca os medos que circundam os dias normais... Faz de mim aquilo que realmente sou, Tua, Mulher, Deia, Vermelha; Senhora dos Desejos concluídos e finalizados mas nunca saciados...
Faz-me pertencer-te em saudades de corpo e alma conjuntos, em emoções e sentimentos guardados por séculos e eternidades incalculáveis...
Explode-me com os anseios, com as verdades, com a realidade de te sentir quente, ardente, sofrido e sobretudo desejado...Deita-te aqui e procura aquilo que vieste buscar, o mais profundo desejo, o mais profundo sentir, a mais profunda temperança, o mais verdadeiro dos beijos vermelhos, de morango cereja...

Palavras Eternas


Gostava que um dia escrevesses só para mim e nunca o fizeste, sempre escreves-te para ti e depois para o Mundo. Nunca gostei disso, sempre te observei dessa forma enervante com a minha visão egoísta, mas tu continuas-te entrelaçado nos enredos de outras vidas que não a minha... e não notas-te o negrume que se multiplicava em infinitos desejos cá bem fundo de uma cobiça sentida...
Hoje sorriu por isso, hoje revivo as memórias de uma ciranda tola, afinal de contas nunca devias ter escrito para mim, porque quem escreve para mim sou eu...E agora as palavras que se soltam destas mãos desajeitadas, e desta mente que no fundo experimenta palavras, são sobretudo só para o mim, para o meu mim completo, para o meu mundo pleno, para no amanha eterno... ficarem aqui...

quinta-feira, maio 22, 2008

Luar


E hoje relembramos aqui o amor ao luar, depois de todas as caminhadas maltrapilhas que fizemos, agarramo-nos com cordas ao futuro incerto de sonhar.
Hoje sonho aqui contigo, ao luar, porque me tocas na pele bem cá dentro do meu intimo, mesmo não estando aqui para me apaziguar, para partilhar a felicidade deste encanto derretido, desta melodia que me sai do peito porque estou feliz, estou mesmo feliz.
Preciso assim de te escrever, aqui debaixo desta luz lunar que nos abraça e nos une num mim tão sentido, tão vivido tão acarinhado, tão necessitado.
Escrevo para te contar todas as coisas e mais outras que nem eu sei, mas que descobro todos os dias que partilho contigo, escrevo-te para te falar, sem mexer um único lábio, porque sei que estas aqui comigo, ao luar a deleitares-te com a minha companhia, com o sorriso que a noite nos trás.
É aqui que depositamos toda a alegria de mais uma vida que é nossa, é aqui que descansamos de todas as parvoíces que proferimos mutuamente. É aqui o futuro, é aqui o presente... nada mais interessa...nada mais se sente senão a certeza do sim...
Então pus a mesa, escolhi um vinho bem carmim, como se degusta na sua melhor forma, espero aqui até que a manha venha embalada pelo sol, e brindo...só contigo...

domingo, abril 13, 2008

Autocarro

Quando me sento nestes bancos de autocarro velho , com aquele cheiro que só por si enjoa, penso se toda a minha vida vai ser assim, se para me dirigir ao que mais amo, tenho que levar com esta mistura enjoativa de cheiros. Cheira a velho, a mofo, sei lá. Agonio-me só de pensar em entrar aqui outra vez e ainda aqui estou sentada neste assento de autocarro.
A estrada desliza-me sobre os pés, nem sei bem para onde vou, sei que me dirijo ao teu encontro e isso conforta-me. Conforta-me todos os dias, saber mesmo se tudo correr mal e desesperar no meio de tanta solidão e mesquinhês, posso sempre correr para ti, apesar de ter de apanhar um autocarro velho e pestilento, no final a tua voz confortante faz-me esquecer tudo aquilo que ficou para trás na estrada.
Embora todos os dias tenha de voltar para a mesma vida velha, cheia de mofo, como o autocarro, és a minha lufada de ar fresco, o meu conto de fadas, no meio desta rotina que me torna velha caquéctica, sem brilho no olhar.
Assim hoje apesar de todo o cheiro que me enche de náuseas pré-maternais, o meu olhar brilha, cheio de vida, a minha cabeça guarda uma frase para te dizer ao ouvido quando adormecermos os dois juntos.

domingo, abril 06, 2008

Avareza


Tudo se querer e tudo se compra, andamos num reboliço de matéria física inorgânica que não se transforma e está desprovida de vida.
Onde está a magia das coisas simples, onde e quando começou a correria para o poder ter, eu tenho-te a ti e isso chega-me. Não quero saber das avarezas de quem possuo coisa nenhuma, eu procuro-te a ti e basta-me o teu toque e teu sabor.
Não quero ter nos olhos o calor ávido da prepotência, de querer ser uma pessoa que reconheço, não quero dizer que tenho aquilo que ainda nem sequer me pertence, que me rotula.
Quero ficar aqui neste canto a olhar para o mar, a ver-te ao longe com o cão que delira com todas as brincadeiras de gente descontraida, quero vir aqui todos os finais de tarde, e assim saber que eu tenho, quero e conquisto todos os dias, as melhores coisas do mundo, a liberdade, o desapego e o amor que te tenho... a ti e a este mar que me alimenta de nobrezas, sem avaresas...

domingo, março 09, 2008

Livro


Hoje reparei que num canto da escrivaninha está aquele livro velho cheio de pó, que por algum qualquer motivo me parou no regaço numa noite de sonhadores. Foste tu que me deste esse livro, depois do primeiro beijo sentido nos nossos lábios jovens e bem-feitos.
O livro contínuo na escrivaninha cheio de pó e de tempo, nunca o abri, sempre o preservei como cândido, nunca quis ler o que escreviam e ditavam as suas páginas, hoje velhas e rotas e pesadas de tempo.
O título é O Segredo do Desconhecido, talvez por isso nunca o quis abrir, o desconhecido sempre me aliciou a continuar todo o meu caminho e a tentar sempre o próximo passo e o seu segredo não era para mim um grande tesouro.
Mas hoje chegou o dia, dirigi-me a escrivaninha e disse para mim mesma que o iria abrir, que iria finalmente desfolhar todos os seus segredos, sentei-me, endireitei as costas o mais que pode, tirei o pó da capa com a palma da mão e abri-o.
O livro estava em branco, com algumas páginas amarelas da velhice, mas branco e imaculado, sem um risco de tinta sem uma palavra, ai sorri e pensei para mim mesma, que depois daqueles anos todos muitas vezes ainda era crédula, é claro que ninguém conhece o segredo do desconhecido, a solução é arriscar, tentar, perder, mas vive-lo.
Ainda bem que mesmo sem ler o livro branco sempre fiz isso, e por isso hoje ainda te tenho aqui, depois daquela noite e depois daquele livro…

domingo, fevereiro 03, 2008

Inveja


Com os olhos marcados com um rancor profundo, olhava para ela com admiração e desespero. Sabia que lhe tinha inveja, porque esta privava com ele todos os dias, naqueles lençóis brancos e lavados com cheiro a uma felicidade imaculada.
Aquela mulher tinha-o para si, e isso dilacerava-lhe todos os dias a alma e o peito, cada vez que acordava e se consciencializava que estava a respirar outra vez.
Amava-o., intensamente, amava-o mais a ele que a si própria, e aquele desespero, aumentava todos os dias, e transparecia-se na pele verde e escura de tão pálida.
Via na rua habitual, a passear a sua beleza que o tinha enfeitiçado, era isso, ela era a bruxa, o anjo negro que roubou a sua felicidade, que lhe tirou os meandros da sua esperança e do seu sonho construído em castelos soltos desde criança.
Aproximou-se mais para a ver de perto, e então chegou ele, com um beijo saboroso que dirigiu à boca dela, não á sua. Desejou morrer, desejou nunca mais ver uma luz na sua vida, foi então que no meio daquela revolta tão sua, virou todo o negrume do seu sentimento para aquela mulher, bonita e elegante.
Pegando numa tesoura que trazia na não se sabe onde, a cobiça apoderou-se do seu corpo, fazendo com que ela rasgasse aquela face encantada de infanta, abriu todas as fendas que pode para que a cara ficasse, bem marcada. Assim ele só olharia para ela, mais ninguém estaria á sua altura mais ninguém, partilharia a sua intimidade...
Coberta de sangue correu pelas ruas sem culpa e sem caracter, a inveja tinha-se apoderado de toda a sua vida de toda a sua existência....
E no final de toda a investida animalesca ele corre atrás dela, e o seu sangue é que lavou as ruas naquela noite...

sábado, fevereiro 02, 2008

Avareza


Foi naquele dia que todo correu mal, vinha com todos os seus adornos ostentativos de uma riqueza partilhada por ninguém, tudo era apenas dela. Vivia infelizmente insatisfeita, com o poder e os valores que possui-a.´
Mais uma vez passava ali orgulhosa da nojeira de pessoa que era, ignorando os demais sem chão e sem pão.
Eram uns vadíos pensava ela, nas suas conversas loucas de mulher, rica e sozinha.
Tinha-se rodeado durante toda a vida de incompetentes bajuladores e larápios da sua fortuna, não confiava em niguem, nem na sua própria mente muitas vezes ela tambem preversa.
Passeava-se assim, ostentando, aqueles ouros, diamantes, e os vestidos franceses bordados à mão.
Foi então que o conheceu... bem parecido e bonito, com sorrisos afáveis e ternos. Iria trabalhar para ela como conservador do património. Não demorou muito, que o seu charme quebrasse, toda aquela arrogância de uma mulher sozinha e fria. Tomou-a nos seus braços as vezes suficientes para ela confiar nele segamente. Ai naquela manha, que todos os seus bens desapareceram como lume, e a arrogância, ficou no meio de um caminho com um pão e uma caneca de àgua dada, por um pobre coitado sem chão e sem tecto.