quarta-feira, julho 25, 2007

Sentir Vermelho


Sinto-me através de ti, da tua masculinidade, da beleza carnal das tuas mãos. Sinto a maciez da tua pele e da minha enquanto estas se desejam.
Pele contra pele, corpo contra corpo, mulher contra homem. O querer chama-os, insiste em vê-los juntos, a fixa-los, a uni-los...
Observas-me pausadamente e eu vou permitindo, permito que vejas toda uma transparência que surgiu para ti, para que me conhecesses em bruto, em cru, em mim.. ponho-me nua de medos e receios...ponho-me disponível para ser...
O meu corpo apenas existe quando lhe tocas, devagar, saborosamente devagar...ai concluo-me de sentimentos carnais, que me despertas com a tua avidez de sentidos.
Entregamo-nos ali um ao outro lentamente tentando que tudo pareça eterno( porque é esse o desejo) e tudo á volta incendeia, transforma-se em fumo, desaparece. Ficamos ali os dois, nós e o cheiro de todos os momentos que nos correspondem.
Pertencemo-nos, confessamo-lo com o olhar, com os beijos que se desenrolam como palavras...
Envolves-me todo o corpo com os nossos vícios, vícios de dois corpos despidos que se querem, ali onde só existem eles e o ar que circula, o todo que sobra é apenas o quente, o doce-amargo, o encarnado...todo o resto é sentir...
Do outro lado, noutra sala que não nos pertence, o relógio não para, os ponteiros continuam o seu circuito...e chega a altura em que os corpos se apartam e deixam para trás o perfume...e o silêncio....

Um conto...



E foi assim...

O comboio apitou, fez soar aquele apito gélido que derreteu o coração dela para sempre.
Ele foi embora com a mala pequena no braço e toda a esperança dela no corpo, o corpo que agora estava integralmente dormente de tão árido e repleto de amargura.
As lágrimas não caíram, a tristeza era tanta que congelou tudo, até o olhar. Aqueles olhos pretos, duas azeitonas perfeitas e belas, secaram, nesse dia em que viu partir o mundo dela, o seu grande alento, o seu maior tesouro, ele partiu com um casaco amarrado à cintura e a fé dela medida entre a trouxa da mala.
Amara-o sempre, e amaria para sempre...
Naquele dia não chorou, engoliu todas as magoas para dentro, as magoas e o orgulho de quem ama mas não respira o cheiro intenso dos sentimentos.
Nunca mais andou de comboio, pois foi este que lhe levou para longe os olhos castanhos mais bonitos que conhecia. Só chorava durante a noite, quando ninguém estava presente, só estava ela e a lua, o resto era a protecção infinita da solidão. Chorava sozinha, até gastar toda a agonia de quem está só. Era como se estivesse num túnel escuro, diariamente engolia o orgulho, mostrando aos outros indiferença, a indiferença de uma mulher bonita, que apesar continuava sozinha.
Ela sabia que não fora o comboio, mas culpava-o, depois daquele dia tudo de caloroso que existia desapareceu, todos os sonhos embarcaram com ele naquela viajem.
Ia todos os dias ao rio ouvir a transparência da água fresca, pura, como os sentimentos calados mas nunca esquecidos que dela provinham. Sentava-se ali, pedia para que a água o trouxesse de volta, para que esta lhe devolvesse o que a linha lhe tinha tirado, queria que ele chegasse com toda a audácia que lhe pertencia e o sorriso rebelde de menino que ainda conservava. Mas ele teimava em não vir e ficava só ela a lua e a água...

Numa noite nem com muitas, nem com poucas estrelas, lá estava ela, ali sentada, a pedir baixinho que a volta fosse breve...sentiu uma mão no ombro, um calor repentino e um cheiro conhecido...virou-se e viu uma cara cravada de rugas e de tempo... e um desejo de um beijo...o desejo de um corpo...

domingo, julho 22, 2007

Sussuros


Vejo-te todos os dias, quando fecho os olhos, é assim que te declamo todos os sentimentos que me passeiam pelos sentidos. É com o olhar que te sussurro... ao ouvido, as palavras que me definem como inteiramente tua...
Essas palavras estão a ser postas num papel branco, hoje, porque o caminho para a tua pele é distante, apesar de esta aquecer a minha todos os dias, e a tocar bem levemente, saborosamente... Toco assim o papel, com múltiplos carinhos, porque este é para ti, para sentires na ponta dos dedos todos os sabores e todo o desejo que te deposito.
Sento-me então nas escadas, e escrevo a carta que me transporta até ti e me permite conquistar-te, sentada deixo que o ar passe por mim, e me alivie o desconforto de uma saudade miudinha que se encontra comigo a toda a hora, ela marca a sua presença e não deixa de sussurrar ao meu ouvido que tu te encontras longe.
Mas eu sorriu ao escrever-me, porque apesar de tudo, gostar-te faz-me feliz.
Assim encho folhas e folhas de um papel sem vida que me autoriza a por lá a minha.
Deixo que as palavras se sincronizem numa dança, construída para ti, para te embalar quando fechares os olhos e me vieres sussurrar ao ouvido... palavras do sentir...