sexta-feira, agosto 18, 2006

Voar na solidão


Sorrisos circundam-me e eu não consigo sorrir, faço um esboço mas os meus olhos continuam tristemente vazios.
Faço um movimento inoportuno e sinto-me desconfortável, o ar percorre o meu corpo come se este lhe pertencesse e sinto-me voar. Imagino asas, asas minhas, que me libertem deste desconforto riscado de medos.
Fecho os olhos sinto-te, percebo-te e corrompo-te, sonho, demónio humano insólito que me desmoronas o corpo, a alma.
Deixo-me levar pelas pernas, não sinto nada, nem o Outono que chegou com a suas folhas, que me abrem uma passadeira de caminhos e tem a vida como força própria.
Cheiro a terra molhada, estou desesperada, desespero por ter uma vida que não quero, por ser quem não sou, mesmo por não saber o que somos e o que o mundo é para nós.
Todos à minha volta regurgitam verdades falhadas ou mentiras pitorescas. Pergunto-me como se pode viver na escuridão da mediocridade tanto tempo e ser feliz numa felicidade enganadora. Será que sou eu medíocre? A que vê o que não é suposto e apenas se afunda na idiotice de apenas querer ser livre, livre e voar...
Como tens tu a visão turva, se és tão eu e tão mim? como consegues tu dormir e comungar com este cenário? Vem comigo, abre-te, sente as tuas asas, dá-te ao impulso de voares, cresce no horizonte, contempla-te.
Não aguento mais, o magnetismo de viver não me deixa repousar. Vou-me, descubro que sei voar, que tenho asas e preparo a minha partida sorridentemente no meio do negrume, sinto o cheiro a terra molhada.
Chamo-te mais uma vez, não te levantas, continuas a dormir, eu parto sozinha...enquanto vejo uma lagrima a deslizar pela tua face...

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