domingo, abril 13, 2008

Autocarro

Quando me sento nestes bancos de autocarro velho , com aquele cheiro que só por si enjoa, penso se toda a minha vida vai ser assim, se para me dirigir ao que mais amo, tenho que levar com esta mistura enjoativa de cheiros. Cheira a velho, a mofo, sei lá. Agonio-me só de pensar em entrar aqui outra vez e ainda aqui estou sentada neste assento de autocarro.
A estrada desliza-me sobre os pés, nem sei bem para onde vou, sei que me dirijo ao teu encontro e isso conforta-me. Conforta-me todos os dias, saber mesmo se tudo correr mal e desesperar no meio de tanta solidão e mesquinhês, posso sempre correr para ti, apesar de ter de apanhar um autocarro velho e pestilento, no final a tua voz confortante faz-me esquecer tudo aquilo que ficou para trás na estrada.
Embora todos os dias tenha de voltar para a mesma vida velha, cheia de mofo, como o autocarro, és a minha lufada de ar fresco, o meu conto de fadas, no meio desta rotina que me torna velha caquéctica, sem brilho no olhar.
Assim hoje apesar de todo o cheiro que me enche de náuseas pré-maternais, o meu olhar brilha, cheio de vida, a minha cabeça guarda uma frase para te dizer ao ouvido quando adormecermos os dois juntos.

domingo, abril 06, 2008

Avareza


Tudo se querer e tudo se compra, andamos num reboliço de matéria física inorgânica que não se transforma e está desprovida de vida.
Onde está a magia das coisas simples, onde e quando começou a correria para o poder ter, eu tenho-te a ti e isso chega-me. Não quero saber das avarezas de quem possuo coisa nenhuma, eu procuro-te a ti e basta-me o teu toque e teu sabor.
Não quero ter nos olhos o calor ávido da prepotência, de querer ser uma pessoa que reconheço, não quero dizer que tenho aquilo que ainda nem sequer me pertence, que me rotula.
Quero ficar aqui neste canto a olhar para o mar, a ver-te ao longe com o cão que delira com todas as brincadeiras de gente descontraida, quero vir aqui todos os finais de tarde, e assim saber que eu tenho, quero e conquisto todos os dias, as melhores coisas do mundo, a liberdade, o desapego e o amor que te tenho... a ti e a este mar que me alimenta de nobrezas, sem avaresas...