domingo, março 09, 2008

Livro


Hoje reparei que num canto da escrivaninha está aquele livro velho cheio de pó, que por algum qualquer motivo me parou no regaço numa noite de sonhadores. Foste tu que me deste esse livro, depois do primeiro beijo sentido nos nossos lábios jovens e bem-feitos.
O livro contínuo na escrivaninha cheio de pó e de tempo, nunca o abri, sempre o preservei como cândido, nunca quis ler o que escreviam e ditavam as suas páginas, hoje velhas e rotas e pesadas de tempo.
O título é O Segredo do Desconhecido, talvez por isso nunca o quis abrir, o desconhecido sempre me aliciou a continuar todo o meu caminho e a tentar sempre o próximo passo e o seu segredo não era para mim um grande tesouro.
Mas hoje chegou o dia, dirigi-me a escrivaninha e disse para mim mesma que o iria abrir, que iria finalmente desfolhar todos os seus segredos, sentei-me, endireitei as costas o mais que pode, tirei o pó da capa com a palma da mão e abri-o.
O livro estava em branco, com algumas páginas amarelas da velhice, mas branco e imaculado, sem um risco de tinta sem uma palavra, ai sorri e pensei para mim mesma, que depois daqueles anos todos muitas vezes ainda era crédula, é claro que ninguém conhece o segredo do desconhecido, a solução é arriscar, tentar, perder, mas vive-lo.
Ainda bem que mesmo sem ler o livro branco sempre fiz isso, e por isso hoje ainda te tenho aqui, depois daquela noite e depois daquele livro…