
Olhava para ele e sabia que queria mais do que uma vida, aquela sabia-lhe a pouco perto da pessoa que era a encarnação da felicidade, que era o conforto e todos os sentimentos genuínos juntos, apesar da idade sentia-se sempre criança ao lado dele. Não sabia como tinham passado tantos anos, ela tinha deixado que o tempo corresse sem se aperceber disso, infelizmente agora era tarde...
Estava a morrer e sabia-o, guardava todos os dias para si aquele segredo, todos os dias pedia só mais um dia, não por ela mas por ele, sabia que a sua morte viria como a noite para os olhos dele mas nunca mais essa noite passaria...
E ele lá continuava na atribulada azafama de um reformado, podava as laranjeiras com pormenores sofismas desnecessários, ela amava-o por isso, por isso e por tudo, amava-o mesmo quando resmungão entrava pela casa a relatar algum acontecimento menos comum, com aquela pele queimada do sol e a expressão grave estampada na cara, e dava-lhe um beijo apressado a dizer que tinha de ir buscar qualquer coisa a Vila.
Amava-o infinitamente... pelo intrincado dos seus olhos, pela facécia das suas palavras frescas de manha e sobre tudo pela paixão que dedicava a tudo o que fazia.
No dia em que morrer, ela sabe se lhe perguntarem se quer outra vida irá dizer que sim, e dá-lha a ele, para ele a poder viver, mesmo que fosse nos braços de outra, amava-o mais muito mais, muito para alem do egoísmo.Observou-o lá ao fundo e reparou que já estava a anoitecer, e pediu mais uma vez, só mais um dias, mais um dia para o amar mais um bocadinho...