quarta-feira, julho 25, 2007

Um conto...



E foi assim...

O comboio apitou, fez soar aquele apito gélido que derreteu o coração dela para sempre.
Ele foi embora com a mala pequena no braço e toda a esperança dela no corpo, o corpo que agora estava integralmente dormente de tão árido e repleto de amargura.
As lágrimas não caíram, a tristeza era tanta que congelou tudo, até o olhar. Aqueles olhos pretos, duas azeitonas perfeitas e belas, secaram, nesse dia em que viu partir o mundo dela, o seu grande alento, o seu maior tesouro, ele partiu com um casaco amarrado à cintura e a fé dela medida entre a trouxa da mala.
Amara-o sempre, e amaria para sempre...
Naquele dia não chorou, engoliu todas as magoas para dentro, as magoas e o orgulho de quem ama mas não respira o cheiro intenso dos sentimentos.
Nunca mais andou de comboio, pois foi este que lhe levou para longe os olhos castanhos mais bonitos que conhecia. Só chorava durante a noite, quando ninguém estava presente, só estava ela e a lua, o resto era a protecção infinita da solidão. Chorava sozinha, até gastar toda a agonia de quem está só. Era como se estivesse num túnel escuro, diariamente engolia o orgulho, mostrando aos outros indiferença, a indiferença de uma mulher bonita, que apesar continuava sozinha.
Ela sabia que não fora o comboio, mas culpava-o, depois daquele dia tudo de caloroso que existia desapareceu, todos os sonhos embarcaram com ele naquela viajem.
Ia todos os dias ao rio ouvir a transparência da água fresca, pura, como os sentimentos calados mas nunca esquecidos que dela provinham. Sentava-se ali, pedia para que a água o trouxesse de volta, para que esta lhe devolvesse o que a linha lhe tinha tirado, queria que ele chegasse com toda a audácia que lhe pertencia e o sorriso rebelde de menino que ainda conservava. Mas ele teimava em não vir e ficava só ela a lua e a água...

Numa noite nem com muitas, nem com poucas estrelas, lá estava ela, ali sentada, a pedir baixinho que a volta fosse breve...sentiu uma mão no ombro, um calor repentino e um cheiro conhecido...virou-se e viu uma cara cravada de rugas e de tempo... e um desejo de um beijo...o desejo de um corpo...

2 comentários:

Anónimo disse...

adorei :)

Etherium disse...

toca bem fundo... e a menina está aki, está a compilar esses textos tds p depois os publicar em livro!
eu kero ser o primeiro a ler! pode ser?
bj gd "oh pekkala, my pekkala"! :)